Título:
Diogo Pacheco
Data inicial:
19/09/1965
Data final:
19/09/1965
Transcrições:

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Ao planejar o espetáculo que hoje apresenta, a Emprêsa Diogo Pacheco guardou em mente conservar o mesmo espírito que orientou suas produções anteriores, ou seja de tentar a divulgação de um repertório erudito com a contribuição de artistas populares. Assim, em outubro de 1964, apresentou Elizete Cardoso cantando a Bacchiana n.o 5, de Villa-Lobos; em junho dêsse ano, Pedrinho Mattar, tocando a Rapsody in Blues, de George Gershwin. Para o concerto de hoje, contamos com a colaboração da cantora Alaide Costa e para isso temos razões muitos especiais. Embora admitamos a excelente qualidade de artistas e conjuntos eruditos na execução de peças medievais e da Renascença, parecem-nos eles se afastarem por demais daquele que é o verdadeira espírito das músicas daquelas épocas, que era também popular. Ao ouvirmos pela primeira vez Alaide Costa cantando a composição Onde está você?, de Oscar Castro Neves, acreditamos ter encontrado uma voz particularmente adequada ao cancioneiro de 500 e 600 anos atrás, por suas características de simplicidade e emoção, como que guardando a herança das nossas modinhas imperiais. A cantora interpretará, com acompanhamentos de alaúde, páginas de alguns dos principais músicos-poetas da França medieval Guillaume de Machault, Aubry - e da Inglaterra de tempos de Henrique VII e de Elizabeth I, esses, com a excessão de John Dowland, compositores cujas músicas chegaram até nós anônimas. Alaíde Costa, que hoje apresentamos a um público erudito, é uma das mais respeitadas intérpretes da música popular moderna brasileira. Nela a crítica sempre ressaltou a pureza do estilo e a ausência de influências alienígenas, título êsse ao qual somente poucos cantores da bossa nova podiam aspirar. <strong>Stravinski</strong>; Nosso programa inclui também a Missa de Stravinski, numa primeira audição no Teatro Municipal de São Paulo da peça que o genial compositor russo regeu na Igreja da Candelária, do Rio de Janeiro, há dois anos atrás. Mesmo dentro de uma obra tão revolucionária quanto a de Stravinski, a sua Missa cresce em importância pela complexidade de sua composição, que requer a participação de um duplo quinteto de sopros, um coral e cinco solistas. O coral que hoje se apresenta é formado por duas entidades: o Madrigal Ars Viva de Santos e o Conjunto Coral de Câmara de São Paulo, que foram preparados pelo maestro Klaus-Dieter Wolff, nome dos mais respeitados entre nós no setor da regência coral e que foi, junto com Diogo Pacheco, fundador do movimento Ars Nova. <strong>Villa-Lobos</strong>; Abrindo o programa o jovem violonista Antonio Carlos Barbosa Lima apresentará a série de 5 Prelúdios, de Villa-Lobos. O artista é sobejamento conhecido da platéia do Brasil, criança prodígio atraves aos inúmeros recitais que realizou numa carreira iniciada como alaúde, tem, Antonio Carlos Barbosa Lima, que também acompanhará Alaide Costa, ao nos últimos anos, encontrado O reconhecimento da crítica e do público, conquistando diversos premios como melhor jovem solista e também pela série de discos gravados. Afirmamos mais acima que as canções da Idade Média e da Renascença são música eminentemente popular. Julgamos porisso conveniente romper uma barreira consagrada pela tradição: a de que canções devem ser cantadas em sua letra original. <strong>Traduções</strong>; No nosso entender, a compreensão das letras é tão importante quanto à própria música. Razão pela qual solicitamos a contribuição de dois eminentes poetas que são, ao mesmo tempo, dois eruditos na literatura da França e da Inglaterra. As letras de Machault, de Aubry, e de anônimos franceses foram entregues a Guilherme de Almeida que as verteu a um portugués arcaico, buscando assim conservar características de originalidade de um linguajar peculiar a uma época. Coube a Péricles Eugênio da Silva Ramos traduzir os versos de John Dowland e dos compositores anônimos inglêses, Partindo de um ponto de vista diferente ele os verteu para um português de hoje e de mais fácil acesso para o grande público. Aos dois poetas agradecemos a imprescindível colaboração. Canções medievais e renascentistas, Stravinski e Villa-Lobos, nosso concerto de hoje apresenta um repertório que já pela diversidade o torna particularmente interessante. O interesse só tende a crescer, quando consideramos a diversidade de meios musicais, empregados: canto, solo instrumental, orquestra de sôpros e coral. Esperamos que o público receba com agrado essa nossa nova tentativa de maior divulgação da arte erudita: que o público tradicional dessa casa de espetáculos nos entenda e que um público novo, para aqui atraído pelo encanto da voz de uma cantora popular aqui retorne

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<strong>Componentes do Coral</strong>; Adriana de Oliveira Ribeiro - Alba Meinrath - Alcina Moreira Leite - Antonieta Moreira Leite - Carmem Vallejo - Cheila Siqueira Simão - Cristina L. Rodrigues de Aguiar - Dirce de Paula e Silva - Dulce Fonseca D. Pinto - Emma Ferreira Basile - Esther Lenhard - Helena Ajzykowitz - Helena Aratto - Inaiá M. Ribeiro Leite - Inês Peralva Costa - Isa Léa Marques - Jacyra Carvalho - Lucin Hatoun Kechichian - Maity Mayer - Maria Aparecida A. da Costa - Maria Aparecida Rollo - Maria da Gloria de Oliveira - Maria Ignez - Ribeiro Lopes - Maria Luiza M. Carvalho - Maria de Paula e Silva - Maria Regina M. de Assis - Maria Regina N. Telles - Marilena Aquino Tavares - Marisa French O. Fonterrada - Neide Dadazio - Neide Seiffert - Ruth Z. Ohnstein - Shirley D. Donadio - Sylvia Moura L. Freire - Tereza Vallejo - Verena Steffens - Yone Pereira - Antonio Barja Filho - Eduardo Ostergren - Fernando Dietrichsen Stickel - Guilherme Moreira Leite - Gilberto Mendes - Humberto Cerqueira - Ignacio Gerber - José Marcolina Azevedo - José Maximo Sanches -  José Vieira Dias - Jorge Tarcha - Josias Ferreira Nobre - Klaus-Dieter Wolff - Laudo Olavo Dalri - Luiz Fonseca Lopes - Milton dos Santos - Paulo Tirelli - Pedro Meinrath - Ruy B. Azevedo - Samuel Carlos O. Pacheco - Sergio Benedetti - Ubirajara Escobar - Victoriano Prieto Puentes - Vincent Paul Rudd - Walter Simoni; Direção dos Coros: Klaus-Dieter Wolff

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São Paulo, 19 de setembro de 1965 - às 21 horas;<strong> Diego Pacheco</strong> apresenta; I parte; Villa-Lobos - Cinco Preludios para violão; Solista: Antonio Carlos Barbosa Lima; II Parte; Missa, de Stravinski - para solistas, côro e duplo quinteto de sopros; Solistas: Shirley D. Donadio - Marilena Aquino Tavares - Eduardo Oestergren - Ignacio Gerber e Klaus-Dieter Wolff; Corais: Madrigal Ars Viva, de Santos e Conjunto Coral de Câmara, de São Paulo; Orquestra: obóes, Walter Elanchi e Salvador Masano; corno-inglês, Francesco Pezzella; fagotes, Gustav Busch e Olivier Toni; trompetes, Dino Pedini e Jayme Leão da iSlva; trombones, Gilberto Gagliardi, Giacinto Pucci e Francisco Serra Rocasalbas; Regente: Diogo Pacheco; Maestro dos coros: Klaus- Dieter Wolff; III Parte; Canções da Idade Média francesa e da Renascença inglesa; 1) Bela Senhor' m'ha - Século XIII; 2) Lealdade praz-me sempre manter - Gui laume de Machaut; 3) Outro dia em verde prado - Aubry; 4) Junto à fontainha - Século XIII; 5) Três bailes populares espanhois - Século XVI; a) Vacas; b) Canários; c) Tornelo; 6) Galharda - John Dowland; 7) Sobre aqueles montes - Tempo de Elizabeth; 8) Barbara Allen - Anonimo; 9) Mesmo que um dia - Tempo de Elizabeth; 10) Teus suspiros, meu coração - Tempo de Henry VII; 11) Tenho agora de partir - John Dowland; 12) Volta, vem - John Dowland; Solista-cantora: Alaide Costa; Acompanhamentos e solos de alaude: Antonio Carlos Barbosa Lima; Traduções das canções francesas: Guilherme de Almeida; Traduções das canções inglesas: Pericles Eugenio da Silva Ramos; O vestido de Alaide Costa foi confeccionado por Jura

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<strong>Guillaume de Machaut</strong> - Sec. XIV; <strong>Lealdade praz-me sempre manter</strong>; Lealdade praz-me sempre manter; E de coraçom servir dona indulgente, Meu coraçom o quer, e o ter; Sempre presente. Ende jamais hei de esquecer; Mas fazer fielmente. <strong>Aubry </strong>- Sec. XIII; <strong>Outro dia em verde prado</strong>; Outro dia em verde prado; Pela hora do serão; Duas donas de meu agrado; Oí eu entom; Sôlo verde avelanedo, Era uma de ar tam ledo; E dizia assi: Tenh'eu muy comigo; Soydade do meu amigo; Q me faz cantar.; Coraçom non praz cuidar.; Se nom que amor demandar. <strong>Junto aa fontainha</strong>; Século XIII; Junto aa fontainha; Que vai sô los ramos; Topei pastorinha; Que non he vilãa; Grã coyta tinha ela d'amor:; Quando virá meu doce amigo; Mercê, mercê, doce velida; Não tueis o vosso doce amigo. <strong>Volta, vem</strong>; John Dowland; Volta, vem!; O amor te induz, meu bem; de graças tão ariscas; a me causar prazer; e hei de te ver, ouvir, beijar: morrer; contigo no mais doce bem-querer; Volta, vem!; O teu cruel desdém; não mais lamentarei; sòzinho e abandonado, suspiro, choro, morro, condenado; por dor cruel e por amargo fado.; <strong>Love will find out the way</strong>; Sobre aquéles montes; e as águas do mar; embaixo das fontes, do chão tumular; sob oceanos que possuem; Netuno por Senhor, sobre as rochas escarpadas, abre rumos o amor. Onde um vagalume; não possa caber; onde até a môsca; não venha a caber; onde um simples mosquitinho; não entre sem temor, há de o amor rasgar caminho: abre rumos o amor. Pequenino em força; mesmo que o julgueis; ou covarde em fuga; mesmo que o acheis: caso a amada fique prêsa; sem luz e sem calor, com mil guardas a vigia-la, há-de ir vêla o amor, <strong>Barbara Allen</strong>; Em Scarlet Town, onde eu nasci. morava linda jovem; penavam moços por ali; se viam Earbara Allen. No mês de maio, quando há flores, um moço que a adorava; veio a morrer por seus amores, pois Barbara o desdenhou. Então a bela amargurou-se; e adoeceu de mágoa: Tivesse eu sido meiga e dôce!; Enterrem-me ao seu lado; E disse às virgens, ao morrer: Oh não façais como eu!; Tirai lição do proceder; da altiva Barbara Allen; <strong>What if a day, or a month, or a year</strong>; Mesmo que um dia, ou um mês, ou um ano, os teus prazeres coroe de alegrias, coroe de alegrias, não poderão, ou em noite ou em hora, os teus prazeres mudar-se em agonias, mudar-se em agonias?; Glória, sorte, formosura, - flores que decaem; gózo langue, amor profundo, sombras que se esvaem. A ventura é amargura, mero engano a sorte; uma hora, até agora, quem roubou à morte?; Ponto é no espaço êste mundo, todo homem, todo homem diante do centro da Terra é; infimo ponto; tolo será quem é ponto de um ponto, caso se orgulhe de ser um pobre ponto, de ser um pobre ponto. O que temos é um acaso, nada aqui perdura; bons momentos são regatos, fogem na verdura. Gozo ou ai, a hora vai, para não voltar; manda o fado, a seu grado, jubilo ou pezar. <strong>Ah! the syghes that come from my heart</strong>; Teus suspiros, meu coração, afligem-me demais. Se vou deixar o meu amor, adeus, ventura, até jamais. A querida, de belo rosto, não tirava os olhos de mim: agora a ausencia é o meu quinhão: que dor! eu morrerei assim. Eu gostava de a contemplar; e de a abraçar também; agora, em meio a queixas e ais, que venha a dor! adeus, meu bem! Ah, pudesse eu vê-la outra vez, quisesse Deus que assim fosse! Para alegrar-me o coração;que poderia ser tão dôce?; <strong>Teatro Municipal em revista</strong>; Editores; <strong>Ribeiro publicidade e editora Ltda</strong>.; Fundada em 4-7-1914; Fundador: Julio dos Santos Ribeiro; <strong>Redação - Administração - Publicidade; Avenida Ipiranga, 795 1.9 Andar. Conjunto 105 - Fone: 37-4841 - São Paulo</strong>

[há fotografia sem autoria de Diogo Pacheco na página p.4]

[há fotografias sem autoria de Alayde Costa e Antonio Carlos Barbosa Lima na página p.6]

[há publicidade nas páginas: p.1 - p.14; contracapa]

Resumo:
Programa do espetáculo planejado pela Empresa Diogo Pacheco ocorrido no Theatro Municipal de São Paulo no dia 19 de setembro de 1965 às 21 horas com a participação de Alaide Costa, Antonio Carlos Barbosa Lima, Coral Madrigal Ars Viva, Coral de Santos e Conjunto Coral de Câmara de São Paulo. O documento contém fotografias de Diogo Pacheco, Alaide Costa e Antonio Carlos Barbosa Lima, relação de componentes do Coral e tradução para o português das músicas apresentadas.
Descrição Fisica:
Folheto impresso em papel branco com dobra simples contendo 14 páginas além da capa e contracapa. A capa contém ilustração de 7 figuras humanas na cor branca em um fundo preto olhando para um livro à direita da página, brasão da cidade de São Paulo com os dizeres “Prefeitura de São Paulo” no canto inferior esquerdo com “teatro municipal” e “programa gratis” abaixo. Na contracapa há inscrição “17788” feita posteriormente a lápis referente ao número de tombo atribuído por antigos funcionários do Arquivo/Museu do Theatro Municipal e uma publicidade da marca Air France.

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